"Pensei que era moleza mas foi pura ilusão
Conhecer o mundo inteiro sem gastar nenhum tostão"
(Melô do Marinheiro - Os Paralamas do Sucesso)
Esse blog é dedicado a todos que voam, que já voaram e que sonham em voar!





sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Coisas que nos irritam


 É de conhecimento de muita gente que tripulantes reclamam muito. É cultural, faz parte do perfil da profissão. Se você não era muito reclamão antes de começar a voar, vai se tornar. É contagioso. Alguns mais, outros menos, mas reclamar faz parte do contexto.

Isso dá margem a muitos comentários maldosos sobre a classe, alegando que tripulante "chora de barriga cheia", e contribui para alimentar a imagem de antipáticos e arrogantes que o grupo tem perante muita gente.

Essa imagem não condiz com a verdade. A maioria dos tripulantes é composta por pessoas de boa índole, prestativas, generosas,que sabem até rir de si mesmas.
Mas trabalhar com público, ao mesmo tempo que tem seus encantos tem também suas idiossincrasias. Certas atitudes dos passageiros irritam sobremaneira o comissário. Com certeza qualquer profissional que trabalha com público tem sua lista negra de comportamentos irritantes de seus clientes.

Nem vou entrar no mérito do passageiro grosseiro e arrogante, pois esse tipo de gente tira qualquer um do sério.
Relembrando meus tempos a bordo me veio à memória certos comportamentos que pelo que pude constatar não mudam com o passar do tempo e continuam a irritar as novas gerações.

Se você é passageiro, aprenda o que não fazer, mesmo sem querer. Se você é candidato a comissário, prepare-se para o que vai enfrentar. Se você já voa e tiver mais sugestões para a lista, fique à vontade!

O cutucador - Nunca em toda minha vida eu conheci alguém que gostasse de ser cutucado. Aliás nunca conheci ninguém que nem se importasse em ser cutucado. Então por que, oh, Senhor,por que alguns passageiros insistem em cutucar os comissários? Tem boca pra que? Custa chamar: Moça! Aeromoça! Rapaz! Meu camarada! Isso para não dizer um Por favor, porque aí também já é pedir demais!



O navegador- Você está concentrado na função de servir refeições e bebidas, correndo contra o tempo porque a etapa é curta. Aí vem o iluminado com a pergunta: "Onde nós estamos agora?" ou então "Que rio é aquele lá embaixo?" , ou apontando para um monte de mato: "O que é aquilo?"
Como se comissários já soubessem a rota de cór. Todos os rios, todas as montanhas, a exata latitude e longitude do exato momento que nosso passageiro navegador faz a pergunta.
Para a primeira pergunta eu sugiro olhar para ele com cara de total espanto e responder desconfiado: "Estamos dentro de um avião."
Para outras o que não vão faltar são respostas como "É o Rio das Pedras." 
Então se você não quiser ser enganado não faça esse tipo de pergunta a quem não tem condições de responde-las.

O sem-caneta - Esse tipo aparece principalmente em voos internacionais, onde todo mundo sabe que existem formulários que devem ser preenchidos para a entrada no outro país. A criatura vai viajar para o exterior sem uma mísera caneta Bic na bagagem de mão! Então pede a caneta ao comissário, que gentilmente a empresta e quando precisa dela (geralmente com urgência), não a encontra porque o passageiro ficou com ela.
Atenção: Comissários não carregam consigo enquanto executam o serviço nenhuma bolsa repleta de canetas! Geralmente todos tem uma no bolso, pois é essencial. Se tiver outras, estas estarão guardadas em sua bagagem de mão que fica em local distante ou inacessível no momento em que ele precisar da caneta.
Por isso, querido passageiro, ao viajar leve sempre consigo uma caneta. Coloque-a junto do passaporte para não esquecer. E nunca pergunte ao comissário "como é que um comissário de voo internacional não tem uma caneta para emprestar?".  Você pode ouvir como resposta: "Não tenho porque perdi todas emprestando para passageiros de voo internacional."



O ínconveniente - Mais comum de se encontrar em voos mais longos, onde há um intervalo entre dois serviços de bordo, ou entre o final do serviço de bordo e o pouso. Após servir refeições e bebidas a duzentos passageiros, é a vez do comissário tentar consumir algum alimento. Ao contrário do que se pensa, aviões não são parecidos com transatlânticos. Não há áreas reservadas. O espaço é pequeno e a tripulação tem que comer improvisando uma privacidade relativa. O comissário pega sua bandeja e procura algum canto para se sentar. Uma caixa, uma mala, o jump seat. E lá está ele mal acomodado comendo a refeição insossa, quando o passageiro o descobre nesse momento de intimidade e resolve que aquela é a tão esperada hora de "conversar com uma aeromoça".
Ele não percebe que aquele é um momento de paz. Um momento em que o que o comissário mais deseja é ficar calado, consigo mesmo, repondo as energias. E o mala sem alça começa o questionário: "Quantos países você conhece?" "Quantos voos você faz por mês?" "Vocês tem família?" "Você não tem medo?" E por aí vai o interrogatório.
Quando o comissário está disposto a uma conversa, ele mesmo puxa assunto. Se ele está comendo ou responde com monossílabos, pode ter certeza de que você está sendo inconveniente.




O porcalhão - Nada mais desagradável do que você estar manuseando alimentos e aparecer um sem-noção colocando na sua mão um lixo qualquer. Um saco com restos de comida ou com papéis rasgados pedindo para você jogar fora. Justamente na hora em que você está servindo aos demais passageiros e não tem lugar para desovar o lixo. Pior é quando te dão nesse momento fraldas usadas, lenços de papel usados ou (argh!!!) sacos de enjoo usados!



Os pais desencanados - Viajam com os filhos e deixam os pimpolhos circularem livremente pelo avião esbarrando em tudo, tropeçando em tudo e enchendo o saco de todo mundo, enquanto fingem que estão dormindo e esperam que os comissários sirvam de babá para os rebentos.





O carente - A hora do embarque é o momento de maior stress e trabalho para os comissários que devem ficar atentos a qualquer sinal que possa comprometer a segurança e o bom andamento do voo. Além disso é função dos comissários agilizar a acomodação dos passageiros, evitando situações como assentos trocados, bagagens em saídas de emergência, e tudo o mais que possa atrasar a decolagem.  O carente mal pisa no avião e já pede um copo d'água, um remédio para dor de cabeça ou para enjoo. Será que não dá para esperar até que todos estejam acomodados para começar o aluguel?



O habitué - Ele tem cartão fidelidade da empresa, viaja toda semana e se sente dono do avião e dos comissários. Sabe de todas as rotinas, questiona quando alguma coisa sai diferente do habitual. Até aí nada demais. Mas se ele começar a agir como "sinhozinho", é melhor situa-lo no contexto e lembra-lo de que estamos no século 21, que a escravidão já acabou há muito tempo e que o fato dele ser um passageiro frequente pode até lhe dar milhagens, mas não lhe dá o direito de ser arrogante.





Quem tiver mais tipos para acrescentar à lista pode ficar à vontade!





Um comentário:

FILIPE ELOY disse...

Muito bom!!! Ri muito!!!!!!

Acho que boa parte deles já passaram por mim....e olha q ainda sou comissário de fraldas! rsrsrs