Amsterdam é um dos meus lugares favoritos no mundo. Um dos lugares que eu quero voltar antes de morrer.
A cidade é pequena e linda! O povo é simpático, desestressado e receptivo com os turistas. Bem diferente de outros povos da Europa. Os holandeses tem um calor humano que lembra de certa maneira nós aqui dos trópicos.Quando saiu minha escala e eu vi que ia passar o Natal em Amsterdam, com direito a dois dias inativos eu fiquei feliz!
Na empresa em que
eu trabalhava, o tripulante que voava no
Natal ou Ano Novo tinha direito a levar um dependente consigo. Podia ser
marido, mulher ou filho. Mas os solteiros e sem filhos não podiam levar
ninguém.
Na época eu era
solteira, então juntei-me aos outros desgarrados. Éramos uns quatro ou cinco solteiros, os
demais estavam acompanhados.
Na noite de Natal,
resolvemos ir ao Bulldog Cafe para relaxar,
tomar umas cervejas e ficar chapados.
Na Holanda o
consumo de maconha e haxixe é liberado. Em Amsterdam existem vários bares ou
cafés que vendem o produto, com cardápio e tudo, além de disponibilizar os
apetrechos para a confecção do baseado. A gente consome lá mesmo. Nas
ruas não é permitido assim como em lojas e outros estabelecimentos.The Bulldog Cafe |
Ficamos lá numa
boa curtindo nosso Natal doidão até umas onze da noite, quando resolvemos
voltar para o hotel. Compramos algo para comer, o vinho já tinha sido
providenciado. Combinamos a reunião no quarto da Bebel, que era maior. A
intenção era comer, tomar o vinho e capotar cada um no seu quarto.
Ao chegar à
recepção, um gentil funcionário nos informou que o hotel estava oferecendo uma
ceia de cortesia para a tripulação, e que todos já estavam reunidos no salão.
Só faltava a gente.
Que cilada! Nem
dava para fugir! Lá fomos nós, com os olhos vermelhos e uma vontade danada de
rir, que logo se transformou em vontade de chorar quando vimos todo mundo
sentadinho e comportadinho nas mesas colocadas em semicírculo.
Os garçons, cada um
com sua tromba se arrastando pelo chão, davam a impressão de que foram
pegos tão de surpresa quanto nós para a tal ceia de cortesia. E que
assim como nós gostariam de estar a anos luz dali!
Sentamos todos, com
um sorriso amarelo na cara, a boca seca, sem saber o que dizer, à espera
de um milagre de Natal. Um apagão, um alarme falso de incêndio, uma poção
mágica de invisibilidade, enfim qualquer coisa que nos desse a chance de
escapar.
Como nada está tão
ruim que não possa ficar pior, a mulher de um dos co-pilotos resolveu
incorporar a primeira-dama (apesar de ela ser a segunda-dama) e para quebrar o gelo propôs que cada um de nós
dissesse algumas palavras.
É nessas horas que a gente compreende verdadeiramente a expressão: de boas intenções o inferno está cheio!
E ela mesma, toda
se achando, começou o discurso de abobrinhas, na certa para mais tarde se gabar para o marido: "Viu só como eu falei bonito, benhê?" Disse que estava “muito feliz por estar ali, que o Natal era um momento de confraternização, que isso, que
aquilo…”
Eu olhava para os
meus amigos e eles para mim, imaginando o que fazer. Gritar até ficar rouca?
Mandar a “primeira-dama” se situar e parar de falar besteira? Desmaiar?
Pegar a faca em cima da mesa e cortar os pulsos?
Quando chegou na
minha vez de dizer algumas palavras eu falei mais ou menos assim: “Olha, vocês
são muito gentis e tal, mas eu não curto muito essa coisa de comemoração, nem de discurso. Na verdade eu nem queria dizer nada porque
eu não tenho nada interessante para dizer.”
Alguns segundos de
silêncio. Veio a comida, que por sinal deixava a desejar. Os garçons
que nos serviam com uma má vontade gritante contribuíram ainda mais para tornar
a ceia de Natal uma verdadeira tortura.
Desejei boa noite
assim que pude faze-lo sem parecer falta de educação, e fui dormir.
No outro dia era
Natal! Como não tinha almoço comemorativo, nem discursos, nem candidatas a primeira-dama, resolvemos nos dar de presente o aluguel de umas bicicletas, um passeio na Leidseplein e uma visita ao Bulldog Café.
Leidseplein |
Stoned again…
Laricas |
5 comentários:
Oie Lucy
Eu morei na Holanda por 2 meses e realmente nao gostei de la!
Hj me sinto bem mas acolhida na Irlanda, onde muitas vezes penso estar no Brasil =)
Bjs
ahahah adorei!! me veio uma dúvida: cms nao tem que passar por exames toxicológicos?
bjso
Aline, no Brasil a prática de exames toxicológicos em tripulantes ainda não é utilizada. Algumas empresas fazem no exame admissional.
Mas a ANAC está querendo implantar o exame por amostragem em tripulações. O exame vai detectar inclusive drogas lícitas e alcool.
Bjos.
hahahaha Adorei!!!
Fui a Amsterdã em 2008 e o Cafe Bulldog ainda estava lá! Loucura total! Muito bom!
Tbm senti um acolhimento maior na Holanda. O povo de lá é bem parecido mesmo!
Ri muito aqui lendo o post. Que furada essa ceia! rs Era melhor ter ficado no Coffee Shop mesmo.! :))))
bjosss
Estou rachando de rir com a "primeira dama". rsrsrs deus! vc é ótima!!! vc deveria escrever um livro. pense nisso. seu jeito de escrever é descontraído e divertido. AMO!
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