"Pensei que era moleza mas foi pura ilusão
Conhecer o mundo inteiro sem gastar nenhum tostão"
(Melô do Marinheiro - Os Paralamas do Sucesso)
Esse blog é dedicado a todos que voam, que já voaram e que sonham em voar!





terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Natal em Belém


Não, não é a cidade onde Jesus nasceu.  É Belém do Pará mesmo!
Comecei a voar no mês de Dezembro, depois de três meses de curso. 
Como em aviação antiguidade é posto, eu como “carne nova” nem tive a opção de folgar nas festas de fim de ano.
O primeiro mês de um novo trabalho é sempre estimulante! Ainda mais se o trabalho é viajar pelo Brasil afora conhecendo novos lugares e tendo contato com outras culturas.
Quando peguei minha primeira escala de voo, tudo era novo para mim!  Pela programação ali impressa, eu estaria de sobreaviso no dia 23, iria para Porto Alegre no dia 24 em um voo pinga-pinga, onde passaria a noite de Natal, e no dia 25 de manhã iria a Buenos Aires, Montevideo, novamente Porto Alegre, São Paulo e finalmente Rio, chegando tarde da noite, numa programação que era conhecida como “Conheça a América do Sul em uma tarde”.
Na véspera do meu voo natalino, a programação mudou. Fui acionada no sobreaviso para o voo para Belém.  Ao invés do sul eu passaria a noite de Natal no norte, em Belém do Pará. Era um voo direto, de pouco mais de três horas, chegando em Belém pouco antes da meia noite. No dia seguinte (24) ficava inativo e dia 25 de manhã cedo retornava ao Rio, também direto.
Por mim tudo bem. Quem está na chuva é para se molhar.
Ao me apresentar para o voo, o instrutor que me acompanhava me disse feliz da vida: “A gente se deu bem com a troca de programação! O voo chega de volta ao Rio às 10 da manhã do dia 25. Ainda dá pra pegar o almoço de Natal!”
Quando fomos assinar a folha de apresentação (naqueles tempos jurássicos não tinha computador para passar cartão), uma surpresa. Toda a tripulação tinha sido reprogramada. Ao chegar em Belém prosseguiríamos no mesmo avião para Caiena, depois Paramaribo e retornaríamos a Belém para pernoitar.


Hein??? Onde???
Para quem não se lembra dos tempos de escola, e de fato a  gente até se esquece desses nossos vizinhos, Caiena é a capital da Guiana Francesa, e Paramaribo a capital do Suriname, antiga colônia holandesa.
Notei que a tripulação ficou contrariada. O comandante tentou argumentar, os demais comissários também. Mas eu, por ser nova na área não compreendi bem o porque. Pensei com meus botões que até que seria interessante pousar em dois países desconhecidos numa mesma noite.
Chegamos em Belém às onze e meia da noite. Foi o tempo de desembarcar os passageiros que vieram do Rio e embarcar os que iam para Caiena e Paramaribo. O avião estava lotado e eu sem entender o que tanta gente ia fazer naquele fim de mundo nas véperas do Natal. Havia passageiro de toda a espécie.Tinha indianos vestidos a caráter que reclamavam porque não tinham refeições vegetarianas para eles, tinha alguns com fortes traços indígenas, tinha africanos legítimos, e não afro-descendentes,  tinha europeus falando francês e inglês, tinha até brasileiros!


Pousamos em Caiena, alguns passageiros ficaram por lá e a maioria seguiu para Paramaribo. Chegando lá, todos desembarcaram e entraram outros passageiros, novinhos em folha, com a mesma variedade étnica.


A essa altura deviam ser umas  quatro horas da manhã, e a tripulação cantarolava a Melô do Marinheiro dos Paralamas do Sucesso com uma pequena modificação: "Entrei de gaiato no avião. Entrei, entrei, entrei pelo cano."


Pousamos de volta em Belém por volta das seis da manhã do dia 24. Nem preciso dizer que eu estava no bagaço... Mas todo mundo tentava entrar no clima, e combinamos para mais tarde uma reunião no quarto de alguém para passarmos juntos a noite de Natal.


Como o hotel não dava ceia de cortesia (tripulante adora cortesia!), e na noite de Natal seria dificil encontrar um lugar legal, acabamos ficando no quarto de alguém (não me lembro quem), comendo amendoim e bebendo cerveja. 


No dia seguinte pela manhã, já dentro do avião com passageiros embarcados, um barulho estranho em uma das turbinas.
Uma colega mais experiente passa por mim e sinaliza com o polegar para baixo. Ferrou!
Mais uma tentativa e o ruído da turbina fica ainda mais estranho.  Estranhíssimo, pensava eu sentada no jump seat. Ao meu lado uma outra colega, gaúcha, que tinha planos de pegar o voo para Porto Alegre assim que chegássemos no Rio, começou a chorar. Estava com a mala cheia de presentes para a família, o pai faria um belo de um churrasco.
E chama os mecânicos para ver qual era o problema, e testa a turbina de novo. Ainda não foi dessa vez. E mexe daqui, mexe dali, tem que trocar uma peça, mas tem que esperar a peça chegar de Manaus…
Resumindo: Pousamos no Rio às quatro da tarde, seis horas de atraso. Almoço de Natal nem pensar! Só no próximo ano.
Ou não…


Obs. Meus queridos leitores devem estar pensando que eu devo ser uma pessoa muito azarada, pois todas as minhas "primeiras vezes" na aviação foram problemáticas, vide Meu primeiro voo internacional. Realmente eu já parei para pensar se isso é uma questão cármica,  se Deus gosta de me botar à prova para me testar ou se é um mero acaso. Não cheguei a nenhuma conclusão definitiva. Mas agradeço a Ele pelos 20 anos sem sofrer nenhum acidente ou incidente sério e pelo fato de nunca ter precisado colocar minha vida em risco, e nem a vida de outras pessoas. Então considero esses contratempos que me ocorreram como um aprendizado para me tornar uma pessoa melhor e mais tolerante. Se eu consegui, isso eu não sei!


2 comentários:

FILIPE ELOY disse...

Conseguiu sim, com certeza!!!!

nossa, quanta provação! rsrsrsrs

Nossa, como Belém é quente...é de morrer!!! :)

Danilo disse...

hahaha tadinha!!!

Adoro teu blog, sempre venho aqui ver se tem novas atualizações. Feliz ano novoo