"Pensei que era moleza mas foi pura ilusão
Conhecer o mundo inteiro sem gastar nenhum tostão"
(Melô do Marinheiro - Os Paralamas do Sucesso)
Esse blog é dedicado a todos que voam, que já voaram e que sonham em voar!





quarta-feira, 29 de junho de 2011

Emirates





Que tal voar fora do Brasil num contrato de três anos no mínimo, morando em alojamento que é um apartamento de dois quartos para duas pessoas? E sem precisar da licença da Anac?

O local é Dubai nos Emirados Árabes e a companhia aérea é a Emirates Airlines. A Emirates recruta comissários em várias cidades do mundo através do Open Day. Em julho haverá Open Day em São Paulo, conforme o site.

Algumas exigências devem ser observadas, como inglês fluente falado e escrito, pois o curso é ministrado em inglês, idade mínima de 21 anos e outras que podem ser conferidas aqui. Vale ressaltar que eles são muito chatos em relação a tatuagens. Se a tatuagem ficar em local visível usando o uniforme, desista! Nem adianta disfarçar com base ou outro recurso.

Os benefícios são muitos, confira aqui. E as oportunidades de morar fora, ter contato com outras culturas e viajar pelo mundo, essas são iguais àquela propaganda do Master Card: não tem preço!

Sem falar que o comissário volta com um pé de meia razoável, se for responsável e souber administrar o salário. E caso deseje continuar voando, levará vantagem nas seleções por causa da experiência.

Se você é jovem, solteiro, sem filhos e preenche os requisitos não espere mais! Boa sorte!

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Meu primeiro voo internacional

                                            Ou: Eu também uso pasta Crest!



O momento de começar a fazer voos internacionais é de grande importância na vida de um comissário. Como eu já comentei no post A porta da felicidade, é o sonho de todos, o ápice da carreira. Comissários de voos internacionais fazem parte de outra casta, e todo comissário sonha com o dia em que fará parte dela.

Após três anos fazendo voos domésticos, dois deles como Chefe de Equipe, tinha chegado a minha vez de ser promovida para os voos internacionais! Que alegria! Que felicidade!

Finalmente teria na minha geladeira cervejas importadas, queijos e outras guloseimas que por aqui não se encontram. Poderia ter acesso a um monte de bugigangas eletrônicas, algumas sem utilidade aparente. E teria no armário do meu banheiro a pasta de dentes Crest!

Se ainda hoje é difícil encontrar coisas importadas a um bom preço, imaginem no final dos anos oitenta, quando as importações não eram liberadas e muito pouca coisa podia se encontrar em terras tupiniquins. E o que se encontrava era por um preço absurdo!
Todo comissário internacional que se prezasse usava pasta Crest, comprada na América. Era um diferencial. Hoje se encontra Crest na drogaria mais próxima da sua casa, mas naquela época quem usava era porque viajava para o exterior com frequencia e tinha acesso fácil, e isso era sinal de status.

Fiz o curso de habilitação da aeronave para tirar o novo CHT, tive uma breve aula da sequencia de serviço no novo avião wide-body e pronto.
Saiu a minha escala. Primeiro voo: Miami! Nunca tinha estado em Miami! Oba!!! Paraíso das compras! Da pasta Crest! Dos eletrônicos! Que maravilha! E para completar minha felicidade, uma amiga que morava em Miami e trabalhava em navios que fazem cruzeiro pelas Bahamas tinha me conseguido um cruzeiro de um dia inteiramente grátis! Saía de manhã cedo e voltava à noite, parando em duas ilhas.

Chegou o grande dia. Já no avião me apresentei ao Chefe de Equipe e disse que aquele era meu primeiro voo no novo equipamento.
Aeronaves wide-bodies costumam ser divididas em três classes: Primeira Classe, Classe Executiva e Classe Econômica.

Os neófitos começam ralando na Econômica, que na época era conhecida como Pavilhão Nove (alusão à rebelião de presos no pavilhão nove do presídio de Carandiru em São Paulo), Vila Socó (por causa de alguma novela que tinha uma comunidade pobre com esse nome) ou Umbral (quem viu o filme Nosso Lar sabe do que se trata).

Hoje certamente já cunharam nomes mais criativos, porque se há alguma coisa que não falta aos comissários é imaginação fértil.

Além do Chefe da Equipe, tinha também os Supervisores da Primeira Classe, da Executiva e da Econômica.
Ao fazer o briefing, o chefe me recomendou à supervisora da econômica dizendo que era meu primeiro voo.
A supervisora revirou os olhos e fez aquela expressão de "Ai, que saco! Vai me dar trabalho!" Foi nesse momento que eu percebi que minha estréia na aviação internacional não seria tão agradável quanto eu gostaria.

Como boa profissional que sempre fui, fingi não perceber a grosseria daquela senhora gorda e de meia idade e fui me apresentar aos demais colegas. Ao me apresentar aos colegas da Primeira Classe, nova patada. A comissária que por lá reinava me olhou com se eu fosse um nada, e meio que me mandou voltar para o meu lugar.

Comissários da Primeira Classe e da Executiva constituem uma sub-casta dentro da casta dos que voam internacional. Como se sabe, antiguidade é posto em aviação civil, e estes profissionais são os mais antigos, os que tem mais tempo de voo, e alguns se sentem como vacas sagradas.

 Engoli a grosseria da vaca e atribuí-a ao fato de eu ser "carne nova", jovem e de boa aparência, enquanto que ela era um tribufú.

Os demais colegas da econômica, todos com cara de entediados, me deixaram super "à vontade": "Você vai olhando o serviço e aprendendo."  Oi???
Veja bem: Eu não queria nenhum tapete vermelho! Queria apenas que eles fossem um pouco mais receptivos, que compreendessem minha insegurança porque afinal todos eles passaram por isso. Que tivessem um pouco mais de empatia.

Terminado o embarque com o avião lotado até o talo, afinal era Dezembro, decolamos e começou o serviço. Eu que já estava nervosa, depois da recepção "calorosa" fiquei pior ainda. O trolley das bebidas era diferente do que eu estava acostumada. Parecia que eu estava empacada naquele corredor enorme e não conseguia sair do lugar.
A supervisora balofa cheia de "Ai, meu Deus..." e de "Anda logo!"  E como que para piorar minha desgraça, cada passageiro resolvia me pedir três bebidas ao mesmo tempo.

Quando eu precisava ir na Classe Executiva solicitar alguma coisa, a baranga da primeira classe se materializava por lá, sempre com alguma patada na ponta da língua: "Você não pode passar por aqui!" "Você não pode usar esse banheiro!" "O que você está fazendo aqui? Volte para o seu lugar!"

Se eu não estivesse tão ansiosa para chegar, ficaria mais chateada do que fiquei. Mas resolvi deixar passar.
Aterrissamos em  Miami de manhã bem cedo, o dia estava amanhecendo.  Ao chegar ao hotel, tomei banho, troquei de roupa e fui encontrar minha amiga no porto para fazer o cruzeiro, dando graças a Deus por não precisar depender da companhia daqueles espíritos sem luz.

Cheguei de volta quase duas da manhã, passando antes em Coconut Grove com minha amiga para tomar umas cervejas. Estava tão excitada com as novas emoções que me esqueci de ficar cansada.

Na manhã seguinte encontrei com uma colega que estava saindo para fazer compras e me levou com ela para conhecer as lojas. Fiz o reconhecimento e comprei algumas coisas (pasta Crest inclusive rsrs).

Voltamos ao hotel, descansei um pouco e já era hora de me arrumar para o voo da volta. Esperava que a volta fosse melhor do que a ida, mas não foi...
O voo estava lotado. A supervisora continuou revirando os olhos e pegando no meu pé. A baranga da Primeira Classe não podia me ver que soltava alguma coisa. Os outros colegas continuavam com o ar blasè.

Lá pelas tantas, ao ser acordada para o serviço de café da manhã, a supervisora baleia instruiu a mim e aos outros para nos arrumarmos no banheiro da primeira classe que era menos concorrido, porque o voo tinha adiantado e chegaríamos meia hora antes do previsto. Então o tempo para fazer o serviço tinha encurtado.

Banheiro da Primeira Classe??? Ai, meu Deus! A baranga não ia me deixar em paz! Mas eu obedeci e fui. Para não ser acusada de estar demorando eu nem escovei os dentes. Arrumei rapidamente o cabelo, passei um batom e saí. Adivinhem quem estava me esperando na saída? Ela mesma! O tribufú da Primeira Classe, que para não deixar passar em branco me disse: "Anda logo porque o serviço na Econômica já está quase terminando!"
Aí já era demais! Chamei-a num canto e disse-lhe ao pé do ouvido: "Eu também não fui com a sua cara..." Sem esperar resposta,virei as costas e fui!

Pousamos finalmente no Rio, e eu agradecia a Deus por não ter tripulação fixa, e que a chance de se reunir tantas pessoas nefastas num mesmo voo era remota.
Um dos colegas da econômica resolveu ser simpático (um pouco tarde, né...) e me perguntou: "E então? Gostou do seu primeiro voo internacional?"
E eu muito sinceramente respondi: "Não. Mas eu tenho certeza que os outros serão melhores!"

E felizmente eu estava certa!

Obs. Para melhor entendimento de algumas palavras usadas no post, sugiro a leitura da página Pequeno Glossário da Aviação Comercial

sábado, 18 de junho de 2011

Com que língua eu vou?

Muitos candidatos a comissários me perguntam se é realmente importante saber falar um segundo idioma para trabalhar na aviação civil.
Ou se saber inglês é mesmo fundamental para a carreira, e quais seriam os idiomas considerados diferenciais em um processo seletivo.

A resposta à primeira pergunta é sim. Apesar de que as exigências em relação ao segundo idioma variam de empresa para empresa. As companhias aéreas que fazem voos internacionais, como a Tam e a Gol cobram mais dos candidatos. Aqueles que só falam o português não terão muitas chances.
Já nas empresas que fazem voos domésticos a exigência é menor. Então o candidato que fala um inglês bem basiquinho ou não fala nada tem chances.

Mas isso não significa que a resposta à segunda pergunta seja não... O inglês, apesar de não ser pré-requisito em algumas empresas aéreas, é fundamental para a carreira sim! Por vários motivos.

Primeiro, não é porque você trabalha numa companhia aérea que só faz voos domésticos que seus passageiros serão todos brasileiros. Muitos estrangeiros vem ao Brasil a turismo ou a negócios, e utilizam aeronaves brasileiras para se deslocar.

O segundo motivo: Eu sou da opinião que nós devemos sempre pensar grande e pensar alto. Não devemos achar que vamos passar o resto de nossas vidas profissionais fazendo voos para Xique-Xique. O mundo é grande! Imagine você em Londres sem saber pedir uma informação, ou responder a alguma pergunta simples.

Mas por que o inglês? Porque gostando ou não, o inglês ainda é o idioma diplomático oficial. Então mesmo em país que não é de língua inglesa, é possível se comunicar em inglês nos hotéis, aeroportos, estações de trem e muitos restaurantes.


 Meu conselho para quem não tem muita afinidade com o idioma: baixe da internet as letras das músicas que você gosta e cante junto. Se tiver palavras que você não entende procure no Pai Google, ou tente entender pelo contexto.
Mais um conselho: Tente assistir filmes com a legenda em inglês. Tem que ser filmes de sua preferência, vale até filmes que você já viu e quer ver de novo.

Agora vamos à terceira pergunta: quais são os idiomas diferenciais para quem quer ser comissário? O espanhol está sendo muito valorizado. Lembre-se que moramos em um país cercado de países de língua espanhola por quase todos os lados (tirando o Oceano Atlântico).

Todo brasileiro "acha" que fala espanhol pela semelhança de algumas palavras. Mas na verdade fala-se portunhol, e muita gente paga muito mico tentando se comunicar nesse dialeto inventado. Quem fala espanhol DE VERDADE terá vantagem na hora da escolha no processo seletivo. E o aprendizado do idioma demora menos tempo devido à semelhança linguística.

Idiomas orientais também fazem diferença. O japonês e o mandarin são bastante cotados. Encontrar professores de japonês não é tão difícil devido à grande colônia japonesa que vive no Brasil. Existem ainda professores de japonês voltados para a aviação.
Já o mandarin é mais difícil, mas quem procura acha!

Qualquer idioma é válido. Pode ser francês, italiano, alemão, russo... Quem tem espírito de peregrino e vontade de conhecer outras culturas sabe da importância de poder se comunicar. E conhecimento não pesa nem ocupa espaço. Quanto mais melhor!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A porta da felicidade


                              Ou: Agora sou comissário de voo internacional!!!

É fato que quem quer se tornar comissários de voo é porque gosta de viajar, tem interesse em conhecer outros lugares e outras culturas. E tirando raras excessões, a grande maioria sonha com o dia em que fará voos internacionais e conhecerá todos aqueles lugares que só viu nos filmes, nos documentários e nas fotos.

Viajar pelo Brasil é muito bom. O país tem uma grande diversidade cultural. Mas o que a maioria quer mesmo é "ganhar mundo"!

O critério utilizado pelas empresas aéreas para promover comissários para voos internacionais é a antiguidade. Se a companhia está crescendo, com novas aeronaves chegando e mais pessoal sendo contratado, o comissário não ficará muito tempo fazendo voos domésticos e logo será promovido.
Se ao contrário, a empresa está estagnada, tão cedo não haverá promoções...

O outro critério é o idioma. Se a empresa necessita de comissários que falem mandarin (por exemplo), e não tem pessoal suficiente entre aqueles que voam internacional, então o "novinho" que entrou mês passado e fala o idioma será promovido na frente dos mais antigos.
Vale ressaltar que tem que ser um idioma que poucos falam. Inglês, francês, alemão e outros mais comuns sempre tem pessoal suficiente para suprir a demanda.

Fazer voos internacionais significa voar menos, ter mais folgas e ganhar diárias na moeda do local. Mais do que isso, significa um novo status!

Os comissários que voam internacional fazem parte de uma outra "casta". Existem diferenças até no linguajar. Geralmente comissários de voos domésticos se referem a suas programações pelos números dos voos. Por exemplo: "Vou fazer o 3410". É que são tantos pousos que fica mais fácil assim.
Já aqueles que voam internacional se referem aos lugares para onde vão: "Amanhã vou fazer o Paris." "Cheguei hoje do Nova York."

As diferenças não param por aí. Há diferenças na sequencia do serviço de bordo e no ritmo de trabalho. As aeronaves agora são maiores. Wide bodies com dois corredores. O trabalho de equipe é mais cobrado. As tripulações são maiores. Não é mais aquela pequena "família" como as tripulações de voos domésticos.

Existe principalmente uma diferença comportamental entre comissários que fazem voos domésticos e os que fazem voos internacionais, mesmo dentro de uma mesma empresa. Isso pode acarretar choque cultural nos primeiros voos do neófito. Eu passei por isso no meu primeiro voo internacional, mas isso é assunto para um outro post.

O que realmente importa é que as portas do mundo se abrirão para você! A visão que as pessoas tem de você mudará ao saberem que você voa para fora. Por incrível que pareça, te tratam com mais respeito.
Só tome cuidado para isso não subir à sua cabeça!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Vai começar a pauleira...

Vem aí as férias de meio de ano, época em que muita gente viaja. Não apenas os brasileiros, mas também os gringos de toda parte, pois é o início das férias de verão no Hemisfério Norte e a galera aproveita para voar.

Para os comissários é a época da pauleira. Escala apertada, voando mais do que urubu, no limite da regulamentação (em alguns casos estourando os limites...).
Aqueles dias tranquilos na serra ou na praia com a família ou amigos, pode esquecer! A viagem ao Nordeste, a Buenos Aires ou alhures só se for a pé, tripulando o avião.

É a época dos menores desacompanhados que os pais despacham nos voos para a casa da vovó, do papai, da mamãe, etc. aos cuidados dos comissários.
É a época da classe média emergente ir se deslumbrar na Disney, em Nova York, Paris e Madrid. E na volta da viagem brindar os amigos com centenas de fotos, horas de filmagem, histórias, impressões e comentários nem sempre ortodoxos sobre os lugares por onde passaram.

Temporada de voos atrasados porque os aviões operam no limite, de overbooking e de passageiros estressados pela longa espera e pela frustração de não conseguir embarcar.
E você, colega comissário tem duas opções para enfrentar tudo isso. Ou engrossa a fileira dos estressados ou segue o conselho lapidar da ex-ministra do Turismo: relaxa e goza!

Aproveite para pagar seus pecados e não precisar voltar ao plano terrestre tão cedo. E quando retornar à matéria nascerá rico, lindo, inteligente, charmoso e com aeronave própria para não passar por esse stress todo.

Mas se você não é do tipo espiritualizado, encare isso como um aprendizado para se tornar um ser humano melhor. Ah, filosofia também não é sua praia?  Então o melhor é levar na esportiva, respirar fundo e contar até mil porque uma hora tudo isso vai passar. Até começar a pauleira de final de ano...

OUWWMMMMMMM....
OUUWWMMMMMMM....
QUESACOWWWWMMMMM....
VOU MATARUMMMMMMM...
MESEGURAOUWWWMMMMM.....

sábado, 4 de junho de 2011

Como tudo começou


Eu trabalhava nas lojas Duty Free do aeroporto. Emprego que arrumei para ficar mais próxima da aviação numa época ainda sem as facilidades da internet.

Eram cinco e meia de uma madrugada fria. Meu primeiro dia de trabalho naquele ambiente mágico de chegadas e partidas.
Uma colega mais antiga me chamou para ir junto com ela entregar mercadorias compradas pelos tripulantes de um avião da Ibéria. Tripulantes podiam comprar no Duty Free, mas as mercadorias tinham que ser entregues para eles a bordo do avião.

O dia ainda não tinha amanhecido e a movimentação já frenética na sala de trânsito do aeroporto tinha algo de irreal, como se estivéssemos envolvidos por brumas. Com a percepção sonolenta e letárgica de quem acordara no meio da madrugada, a primeira de muitas madrugadas acordadas, eu observava tudo.

Os rostos pálidos dos passageiros também recém-despertos e seus olhares perdidos, como se estivessem chegando de outra galáxia. A iluminação branca e fria que dava um ar de sonho a tudo. As luzes da pista e dos aviões estacionados na escuridão lá fora. A voz sem corpo no alto falante anunciando chegadas e partidas. O vai e vem dos funcionários uniformizados. Os diversos uniformes, alguns mais vistosos do que outros.

Entramos pelo finger e chegamos ao avião. O zumbido das turbinas e  a vibração no chão foram os primeiros choques. E de dentro do avião veio o cheiro. Não dá para definir em palavras o cheiro. Não era agradável nem desagradável. Cheiro de outras terras, de estrangeiro, de desconhecido. Cheiro que convida, que aguça a curiosidade. A mistura de cheiros de suor de gente, poltrona de avião, perfumes diversos, roupas, comidas, combustível. O cheiro me envolveu totalmente. E foi nesse momento daquela madrugada fria que eu soube o que queria fazer. O que precisava fazer. Iria fazer parte daquele cheiro.

Os anos de profissão me ensinaram que cada país e cada povo tem seu cheiro característico. O único que não consigo identificar por estar envolvida nele é o cheiro do Brasil.
Mas o cheiro de um avião depois de horas de viagem é quase o mesmo, na sua maioria das vezes. Era o cheiro que ficava no meu uniforme quando eu chegava de voo. O mesmo cheiro que eu senti naquela madrugada, e que se tornou familiar porque tinha se tornado "meu".
Eu consegui.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Assento conforto

Cheguei ontem de viagem. Fui e voltei pela Tam. Apesar de ser um voo curto de menos de uma hora, é sempre bom estar no ar novamente. Se bem que viajar de graça é melhor. Tenho saudades do tempo em que eu embarcava no avião como se fosse minha casa. Ia na galley cumprimentar os colegas, na cabine de comando dar um oi para o comandante.
Agora é como se eu fosse uma visita de cerimônia, mas valeu mesmo assim.

Quando estou a bordo como passageira faço o gênero blasè. Não me apresento aos comissários como colega, principalmente porque a companhia aérea não é a "minha". Não puxo assunto nem forço intimidade porque sei que não é de bom-tom vindo de uma desconhecida.
Fico sentada quietinha só observando. Sou aquela passageira invisível com cara de paisagem, mas que não deixa passar nada. Um perigo!

Nessa viagem pude observar a mais nova modalidade dos "gênios" do marketing que as empresas aéreas contratam a peso de ouro para criar cag... ops, idéias: o Assento Conforto!
"Assento conforto" foi o nome criado para aqueles assentos situados na primeira fileira e nas saídas de emergência sobre a asa, com alguns poucos centímetros a mais de espaço para esticar as pernas.

Esses lugares "privilegiados" costumavam ser disputados no tapa por passageiros mais frequentes que já conheciam os "macetes" e chegavam no check-in exigindo: "Eu quero assento na saída de emergência!"
E ao serem informados que tais assentos não estavam mais disponíveis porque outros chegaram na sua frente ficavam resmungando e ameaçando fazer e acontecer.

Pois bem, senhores passageiros, como diriam as Organizações Tabajara: Seus problemas acabaram!!!
Agora por uma módica diferença no preço do seu bilhete você terá direito a seu assento conforto sem ter que se matar por isso!

No cabeçote dessas poltronas já vem demarcado: "Assento Conforto" que é para não deixar dúvidas. Meu voo estava com poucos passageiros, tanto na ida como na volta. Terminado o embarque como é de praxe os passageiros começaram a se reacomodar, procurando melhores lugares para fazer a viagem.

Naturalmente os assentos conforto foram prontamente ocupados por dois rapazes, que foram prontamente retirados de lá pela comissária que lhes explicou educadamente que para sentarem lá teriam que pagar a diferença do preço da passagem.

Dois minutos depois mais dois rapazes ocuparam os assentos, ou porque não viram o que aconteceu ou por que davam uma de "joão-sem-braço".
Novamente a mesma comissária fez o mesmo discurso e eles tiveram que sair de lá. E a viagem foi feita com os assentos conforto vazios.

Fiquei imaginando como seria se pegassem pela frente um passageiro "carne de pescoço" dizendo que dali não sairia nem a pau.
Chamariam a segurança para retira-lo do avião provocando atraso no voo? E se já tivessem decolado, a Policia Federal seria acionada no desembarque para autuar o cidadão pelo crime de sentar indevidamente no Assento Conforto?

Uma boa estratégia de marketing seria dar desconto no bilhete de quem optasse por sentar nos malditos e famigerados assentos do meio. Talvez isso acalmasse os ânimos de uns e outros como o tal jornalista Tessler.
Mas como eu sei que isso é pouco provável de acontecer, creio que o próximo passo dos gênios do marketing será criar tarifas diferenciadas para os assentos da janela e do corredor.
Como se chamariam tais assentos? Assentos Diferenciados? Assentos Plus? Assentos Mais Você? rsrs

Aceitamos sugestões!