"Pensei que era moleza mas foi pura ilusão
Conhecer o mundo inteiro sem gastar nenhum tostão"
(Melô do Marinheiro - Os Paralamas do Sucesso)
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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Na boca do sapo

Passei o final de semana sendo informada via Facebook e outros sites de relacionamento sobre uma matéria de um jornalista chamado Eduardo Tessler sobre tripulantes que viajam usando os passes a que tem direito.
A matéria se chama Os caroneiros dos ares e se você quer ver até onde a estupidez humana pode ir, essa é uma boa leitura.

Já entrando no mérito da questão, eu já vi esse filme algumas vezes. Infelizmente pouca coisa me surpreende. O que me deixa desanimada é constatar que esse tipo de mentalidade tacanha ainda perdura nos dias de hoje, com todo o acesso que temos a informações, num simples clique do mouse.

Não me surpreende que no Brasil, país de cultura escravagista, existam pessoas que vejam tripulantes ou qualquer outro profissional que lhes sirvam como simples "empregadinhos", e se sintam afrontadas ao ve-los ocupando assentos de passageiros como se fossem iguais a eles. Mas eu pensava que as novas gerações já tinham outra mentalidade. Lêdo engano!

Como esse blog também tem função educativa, vale esclarecer aqui que os "caroneiros" como foram pejorativamente chamados, são aqueles que se utilizam do Passe de Tripulante. O passe existe desde os primórdios da aviação civil, e ao contrário do que muita gente pensa não é "benefício" nem "concessão" da empresa. Ele é um direito adquirido na Convenção Coletiva de Trabalho (Item 65) e está assegurado nos Regulamentos da Profissão de Aeronauta (lei 7183/1984). O passe é diferente das concessões de passagens que as empresas aéreas dão a funcionários e seus familiares. Somente tripulantes podem usar o passe, e regras devem ser observadas. Só embarcam se houver assentos disponíveis e só depois que todos os passageiros estiverem acomodados. A hierarquia é o critério utilizado caso haja mais tripulantes do que assentos disponíveis.

Como atualmente a única base de tripulantes é em São Paulo, apesar do Brasil ser um país de dimensões continentais, muitos tripulantes que moram em outro estado se utilizam do passe para assumir programações ou retornar para casa após a jornada de trabalho.

Fazendo uma análise profissional da matéria, percebo no jornalista um certo despeito. Não vou cair no lugar comum de achar que é despeito da "profissão glamourosa de comissário, que pode viajar, conhecer outros países e ter contato com outras culturas". Seria por demais simplista.
Falo de despeito puro e simples. Inveja do ser humano, não da profissão que ele exerce.

Esse sentimento fica patente quando ele se refere ao copiloto gordo e risonho. Mesmo sendo gordo ele ainda sorri! Olha que afronta!

Quando ele cita os "amigos do comissário" cai em contradição. Primeiro fala do "discreto contato do comissário de vez em quando". Em seguida afirma que passou "12 horas escutando conversa de bêbado".
Ora bolas, decida-se! O contato é discreto e de vez em quando ou é constante e inconveniente?

Como comissária que fui e sempre serei, prezo muito a segurança. Por isso sinto-me na obrigação de recomendar fortemente ao Sr. Tessler que evite utilizar aeronaves brasileiras (talvez seja melhor incluir as estrangeiras também) pelos próximos seis meses pelo menos. Para sua própria segurança e a dos demais passageiros que estarão no mesmo voo. Calculo que esse seja o tempo mínimo necessário para a poeira baixar e o assunto sair de pauta, embora não totalmente esquecido.
Os romanos já sabiam há séculos que não se deve destratar aqueles que te servem comida e bebida. Sábios os romanos.

Se tiver sorte, logo aparecerá outro da mesma etirpe para atrair a atenção e a ira dos aeronautas e o Sr. Eduardo será relegado a segundo plano, pois gente com mentalidade estreita e preconceituosa é que nem praga, dá em todo lugar.
No futuro, se o Sr. Tessler for vítima constante de líquidos entornados acidentalmente em sua pessoa deve considerar a hipótese do fato não ser assim tããão acidental.

Mas como tudo tem seu lado positivo, o jornalista conseguiu a façanha de provocar uma das maiores mobilizações da classe que eu já vi. Talvez porque ele não se referiu somente a comissários ou somente a pilotos (o que já causaria um grande estrago), ou só a tripulantes da Empresa X ou da Empresa Y.
Ele mexeu com toda a categoria. Mexeu num vespeiro.

Ah, e só para terminar. Meu caro e desinformado jornalista: O avião já perdeu o glamour há muito tempo! Hoje é transporte de massa, de povão mesmo. Bons tempos aqueles em que os passageiros tinham mais educação, e não se sentiam afrontados em dividir uma filera de assentos com um tripulante. Hoje qualquer um pode viajar. Até um póóóbre feito você!

2 comentários:

Anônimo disse...

Excelente texto! Esse pseudo jornalista precisa saber que ele não é NADA! Parabéns!

FILIPE ELOY disse...

Perfeito! Tenho pena do Eduardo, Lúcia! Ele foi muito infeliz na matéria. Aliás, ele é um infeliz mesmo!

Somente alguém que sabe tanto dos direitos dos Aeronautas como você, para clarear a mente de pessoas tão pequenas como ele.

Mais esclarecedor, impossível! Adoro meus passes, eles me levam pra casa, logo um direito do qual nunca vou abrir mão.

Bjo